Centrais entregam Carta e cobram Barack Obama

02/02/2011 14:50

Centrais entregam Carta e cobram Barack Obama  

Foto: José Cruz/ABr 

Dilma recebe Barak Obama no Palácio do Planalto

 


Num movimento claro de valorização do movimento sindical e visando reduzir o desgaste gerado pelo baixo reajuste do salário mínimo, a presidenta Dilma Rousseff levou as Centrais Sindicais – UGT, Força, CUT, CTB, CGTB e Nova Central – a almoço com o presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, sábado (19), em Brasília.

O fato, inédito, fortalece a posição institucional das Centrais e coloca a questão trabalhista em destaque na relação entre as nações, quase sempre marcada por temas comerciais ou estratégicos (militares).

A Carta Aberta das Centrais, que um consultor sindical, qualificado, considera altiva, relaciona uma série de questões de interesse dos trabalhadores e do povo brasileiro, como derrubada de barreiras comerciais a produtos brasileiros e respeito aos direitos trabalhistas e sindicais nas empresas multinacionais. O documento também chama atenção para ataques à atividade sindical dentro dos Estados Unidos e, desfraldando antiga bandeira da esquerda, cobra fim do bloqueio norte-americano a Cuba.
 
A CARTA A OBAMA:

Carta aberta a Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos da América

Senhor Presidente,

As Centrais Sindicais, por ocasião da visita oficial de Vossa Excelência ao Brasil, externam algumas considerações e preocupações sobre temas de elevado interesse dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, como as que seguem:

1. O movimento sindical brasileiro considera importante o fortalecimento do comércio entre Brasil e EUA. As relações comerciais entre os dois países apresentam sérios desequilíbrios. O Brasil acumula um crescente déficit comercial com os EUA, que passou dos US$ 4,4 bilhões em 2009 para US$ 7,7 bilhões em 2010, um aumento de 75%;

Tal situação é resultado, dentre outros motivos, da depreciação forçada do valor do dólar norte-americano e da imposição de injustas barreiras à entrada de produtos brasileiros nos EUA, especialmente de etanol, produtos siderúrgicos, tabaco e suco de laranja, segmentos que desenvolveram competências tecnológicas, produtivas e comerciais suficientes para atender o mercado dos EUA, sem utilizar qualquer tipo de procedimento que se contraponha às regras de comércio internacional estabelecidas pela Organização Mundial de Comércio.

Demandamos a pronta retirada de todas as barreiras comerciais contra tais produtos, o que, no curto prazo, recolocaria o comércio entre nossos países em níveis mais justos, fazendo com que a balança comercial convirja para o equilíbrio;

2. Defendemos que o comércio internacional deve ser objeto de mais regulação. São necessárias medidas concretas para combater o protecionismo e os subsídios nas economias centrais, especialmente relativos aos produtos agrícolas e às compras governamentais, além de tornar efetivas cláusulas sociais e o estabelecimento de padrões trabalhistas mínimos, baseados no respeito às Convenções e Resoluções da Organização Internacional do Trabalho – OIT e das legislações nacionais, como forma de reduzir as graves assimetrias verificadas no comércio internacional.

É fundamental estabelecer marcos regulatórios à atuação das empresas multinacionais, sendo que, no caso das relações trabalhistas, significa fortalecer e garantir os direitos das organizações sindicais com representação dos dois países e o diálogo social;

3. Queremos expressar nossa solidariedade aos servidores públicos de Wisconsin e de outros estados e aos sindicatos norte-americanos em luta contra as medidas de restrição das atividades sindicais e das negociações coletivas aprovadas por parlamentos locais.

Causa-nos estranheza, e por isso deixamos aqui nossos protestos, que sob a alegação de “razões orçamentárias” alguns governos estaduais norte-americanos venham a atingir e, inclusive, extinguir direitos básicos conquistados pelos funcionários públicos, fato grave que, por estar ocorrendo na maior economia do mundo, pode servir como “efeito demonstração” a outros países.

Demandamos o respeito aos ditames da Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho – OIT que, embora não ratificada pelos EUA, é uma referência mundial e uma garantia importante aos direitos dos servidores públicos à plena liberdade de organização, à negociação coletiva, à expressão e manifestação;

4. Apoiamos e consideramos positivas as negociações diplomáticas entre os governos do Brasil e dos EUA para o estabelecimento de um acordo que possibilite aos trabalhadores/as brasileiros que contribuam com a previdência social nos EUA e trabalhadores/as norte-americanos que façam o mesmo no Brasil, contabilizar o tempo de serviço fora do país para fins de aposentadoria. Defendemos que o espírito dos avanços instituídos por este acordo seja estendido ao tema da imigração, da necessidade de se legalizar a permanência e o direito ao trabalho dos milhares de brasileiros que atualmente residem nos EUA;

5. Somamo-nos a todas as mulheres e homens que, em todo o mundo, preconizam uma política internacional de paz, de direitos humanos, de desarmamento, de não-intervenção, de autodeterminação e de soberania dos países e dos povos, elementos essenciais para a conquista de um ambiente político internacional calcado na liberdade e na democracia, princípios fundantes da grande nação norte-americana. Reivindicamos o fim do bloqueio econômico a Cuba, medida que, há décadas, impõe enormes sofrimentos e privações ao povo da ilha caribenha.

Brasília, 19 de março de 2011.

Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores;

Artur Henrique da Silva, presidente da Central Única dos Trabalhadores
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical
Wagner Gomes, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

José Calixto Ramos, presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores
Antonio Neto, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil.

Fonte: Agência Sindical

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